terça-feira, 10 de abril de 2012

Meu Jogo Inesquecível: o Timão na trilha do Sport de Ariano Suassuna



Apaixonado pelo Leão, escritor, poeta e dramaturgo relembra três jogos marcantes contra o Corinthians, derrotado na final da Copa do Brasil


Ariano Suassuna, torcedor do Sport (Foto: Tiago Medeiros, GLOBOESPORTE.COM)Suassuna vestindo seu indefectível 'Sport Fino'
(Foto: Tiago Medeiros, GLOBOESPORTE.COM)
Dia 11 de junho de 2008. Quase 35 mil torcedores do Sport se espremem e compartilham a agonia na Ilha do Retiro. A meia-noite se aproximava quando o sopro do árbitro Alício Pena Júnior fez o apito trinar, irrigando o coração dos rubro-negros de alegria, desencadeando uma comemoração que há muito não se via na 'Meca' dos Sportanos. O Sport batia o Corinthians por 2 a 0 e conquistava pela primeira vez o título da Copa do Brasil. Em meio à multidão, um senhor, então com 80 anos, puxava o "Cazá! Cazá!", a identidade sonora dos leoninos.
A plenos pulmões, o ocupante da Cadeira de número 32 da Academia Brasileira de Letras se orgulhava de vivenciar mais um momento glorioso de seu clube de coração. Naquela noite, Ariano Suassuna não ficou para a festa. Voltou para casa rapidinho, mas agradecido ao Corinthians por lhe ter proporcionado mais um instante sublime em 'preto e encarnado' – como mesmo se define. Sport, Corinthians e Ariano estão intimamente relacionados, e não vem de hoje: o Timão é coadjuvante nos três jogos inesquecíveis na vida do escritor, dramaturgo e poeta, que tem o Sport como um dos catalisadores da felicidade em sua vida (muito) ativa.
O Sport, para mim, é - e sempre foi - uma das coisas mais importantes na  vida"
Ariano Suassuna
- Discordo de quem disse que dentre as coisas menos importantes da vida, a mais importante é o futebol. O Sport, para mim, é - e sempre foi - uma das coisas mais importantes na minha vida - diz Ariano.
No Recife, a descoberta do amor pelo Sport
Nascido em João Pessoa, na Paraíba, em 1927, Ariano Suassuna se mudou para o Recife dez anos depois. Na capital pernambucana, viu sua paixão pelo Sport nascer com a ajuda do irmão Marcos, que jogava basquete no clube.

- Lembro-me que íamos à Ilha por uma ponte de madeira. De um lado tinha um senhora que vendia peixe frito e do outro tapioca – relembrou o autor de joias da literatura como o "Auto da compadecida" e "A pedra do reino. Curiosamente, conheceu um campo de futebol por intermédio de um torcedor do Santa Cruz, o amigo Capiba, compositor pernambucano, que morreu em 1997, aos 93 anos.
Ariano Suassuna trabalhando em seu gabinete (Foto: Tiago Medeiros, GLOBOESPORTE.COM)Mesmo aos 84 anos, Ariano Suassuna trabalha diariamente em seu gabinete
(Foto: Tiago Medeiros, GLOBOESPORTE.COM)
Hoje, aos 84 anos, segue acompanhando de perto o Leão. Quando não vai aos jogos, está sempre ligado na TV ou no rádio. O caminho do rubro-negro Ariano e o Corinthians começou a se cruzar na década de 50. De passagem pelo Recife, o Corinthians, que tinha no gol o mítico Gilmar, realizara dois amistosos contra Náutico e Sport. Contra os alvirrubros, um empate por 1 a 1.
- Recordo-me que, quando o Náutico empatou com o Corinthians, um amigo veio até mim e me disse: o problema agora é seu.
Entre os mais de 20 mil rubro-negros presentes à Ilha do Retiro (que havia sido ampliada
para a Copa do Mundo de 50), estavam Ariano e o irmão Marcos.
- O Sport fez um 1 a 0 no inicio do primeiro tempo com um gol do centroavante Ilo Caldas, que bateu forte, por baixo de Gilmar. Depois disso, pense numa pressão. O Corinthians empatou no segundo tempo e veio pra cima. E eu lá, morrendo, suando, sonhando que o jogo terminasse em 1 a 1, quando, faltando cinco minutos para o fim, Ênio foi à linha de fundo e cruzou para Carlinhos marcar o gol da vitória do Sport. Fiquei tão doido que subi no alambrado e comecei a gritar em direção ao banco do Corinthians - e me surpreendi como conhecia tantos palavrões.
Mais de 50 anos depois, e já consagrado, a direção do Sport decidiu homenagear 'Mestre' Ariano. Brasileirão de 2007, dia 4 de julho, data que marcava os 80 da Ilha do Retiro, que estava lotada. O adversário, o mesmo Corinthians, e um novo jogão, que teve o pontapé inicial dado pelo escritor. O time pernambucano abriu o placar com Igor. Dinelson empatou para o Timão. E Weldon, num golaço, selou a vitória rubro-negra por 2 a 1.
- Foi um dia maravilhoso. No fim da partida, um grupo de torcedores pediu que eu puxasse o "Cazá! Cazá!", e eu o fiz mesmo com essa voz rouca de velho – lembrou, bem-humorado.
A presença neste jogo e a reverência da torcida transformaram Ariano Suassuna em um 'pop-star' na Ilha do Retiro. Sempre que compareceu ao estádio depois daquele jogo, passou a ser mais reconhecido e constantemente abordado por torcedores, que passaram a conhecer sua obra por conta do Sport.
- Uma vez ganhei um boné de uma torcida uniformizada do Sport. Aceitei o presente, mas odeio boné, chapéu, tudo que se coloca na cabeça. Para velho, o boné é quase uma peruca. Prefiro ser um careca honesto. Pois bem, depois que ganhei o boné, um garotinho veio em minha direção e perguntou se eu era ex-jogador do Sport. Respondi que não, que era escritor, e ele saiu de fininho. Depois ele veio até mim e disse: "Sei quem é o senhor. É aquele de Chicó e João Grilo (personagens do "Auto da compadecida").
Campeão da Copa do Brasil às custas do Timão
Em 2008, após uma campanha irretocável, o Sport chegara à decisão da Copa do Brasil e tinha pela frente o 'velho amigo' de Ariano, o Corinthians. No primeiro jogo, em São Paulo, vitória alvinegra por 3 a 1, que obrigava o Leão a vencer por 2 a 0 na partida de volta. Ariano viu de perto Carlinhos Bala e Luciano Henrique marcarem os gols da inédita – e sofrida – conquista.
- Quando o primeiro tempo acabou em 2 a 0, foi aí que tive mais medo ainda, mas depois fomos tomados por uma alegria incrível. Fui direto para casa, mas confesso que demorei muito a dormir, tomado pela emoção, que foi semelhante ao lançamento do "Auto da compadecida", em 25/01/1957, no Rio de Janeiro. Na ocasião, todas as peças que nos antecederam foram vaiadas, mas nós fomos aplaudidos, aclamados pelo público. Senti o mesmo que uma vitória do meu Sport.
Pai de seis filhos e avô de 15 netos, Ariano lamenta não ter obrigado a apresentação de atestado ideológico aos quatro genros, já que três deles são torcedores do Náutico.
– Apenas um não era Náutico e não tinha clube. Então eu o pedi para ser Sport, e ele aceitou.
Ariano Suassuna, torcedor do Sport (Foto: Tiago Medeiros, GLOBOESPORTE.COM)Ariano Suassuna mostra fotos das netas. Anaís, à esquerda, é a mais apaixonada pelo Sport

(Foto: Tiago Medeiros, GLOBOESPORTE.COM)
Com os netos, a história está mais equilibrada. A maioria é rubro-negra, com oito deles seguindo o 'legado' do avô. Destaque para Anaís, de 22 anos, torcedora fiel em quase todos os jogos na Ilha. Cientes da paixão do avô pelo Leão, presentes com a referência rubro-negra não faltam - dois pequenos álbuns, nas cores do Sport, que carregam as fotos da família, estão sempre presentes na pasta de Ariano, que segue ativo ocupando o cargo de secretário estadual de Cultura de Pernambuco. Confiante no título do Pernambucano deste ano, Ariano já tem uma ideia em mente para comemorar.
- Se formos campeões, vou aprontar uma. Não vou dizer agora para não municiar nossos 'inimigos'. Por ora, só tenho que agradecer ao Corinthians pelas alegrias a mim concedidas e sigo tendo pena de nossos adversários aqui em Pernambuco, porque eles não sabem o que é felicidade, porque felicidade é torcer pelo Sport.
SPORT 2 X 0 CORINTHIANS
Magrão, Diogo, Igor, Durval e Dutra; Daniel Paulista, Sandro Goiano, Kássio (Enílton) e Luciano Henrique (Everton); Carlinhos Bala e Leandro Machado (Roger)Felipe, Carlos Alberto (Lulinha), Chicão, William e André Santos; Fabinho, Eduardo Ramos, Alessandro e Diogo Rincón (Acosta); Dentinho (Wellington Saci) e Herrera
Técnicno: Nelsinho BaptistaTécnico: Mano Menezes
Gols: Carlinhos Bala, aos 34, e Luciano Henrique, aos 37 minutos do primeiro tempo
Cartões amarelos: Durval e Enílton (Sport); Herrera (Corinthians)
Cartões vermelhos: Wellington Saci e William (Corinthians)
Data: 11/06/2008. Local: Ilha do Retiro, Recife. Competição: Copa do Brasil 2008. 
Árbitro: Alício Pena Júnior. Público: 34.885 pagantes

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