quarta-feira, 4 de abril de 2012

Médicos são presos por aplicar toxina botulínica falsificada


Na busca por beleza e rejuvenescimento, frequentadores de clínicas estéticas localizadas em oito estados corriam risco de ficar com marcas irreversíveis no rosto. Quarenta médicos de Pernambuco estão entre os 66 espalhados pelo país sob investigação. Eles são suspeitos de aplicar produtos falsificados em seus pacientes como se fossem toxina botulínica (botox). Cobravam até três vezes mais que o valor da fórmula adquirida a baixo custo. 

Segundo a Polícia Federal, o esquema funcionava há cinco anos. O número de vítimas é incalculável. Após nove meses de investigação, uma operação foi deflagrada ontem. Dez pessoas foram presas, sendo seis em flagrante. Três médicos pernambucanos fazem parte da lista. Um que atua no centro de Caruaru, uma na Clinical Center, em Boa Viagem, e outra nos Aflitos. Uma quarta médica foi detida no Recife, mas a polícia não comprovou a sua participação no esquema.

A Polícia Federal não tem dúvidas de que os especialistas que aplicavam as fórmulas falsas sabiam dos riscos à saúde. “Os produtos não apresentavam rótulo, lacre ou embalagem. Eles adquiriam por até R$ 350 e aplicavam pelo preço normal de R$ 1 mil.

As perícias confirmaram que a maioria não apresentava sequer a toxina botulínica nos frascos”, afirmou o coordenador da Operação Narke, o delegado federal Humberto Freire. Os produtos, supostamente de origem estrangeira, chegavam aos estados via Correios. Fornecedores de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Alagoas, Sergipe, Minas Gerais e São Paulo eram responsáveis por repassar as encomendas aos médicos. “Os pacientes não tinham conhecimento da origem dos produtos usados”, contou Freire. 

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, 117 médicos pernambucanos estão credenciados a trabalhar nesta área específica. No entanto, a falta de rigor nas fiscalizações abre espaço para que um número muito maior exerça a atividade de cunho mais estético. 

No estado, por exemplo, a Apevisa não fiscaliza as clínicas de estética. “Isso cabe aos municípios”, afirmou o gerente geral do órgão, Jaime Brito. Segundo ele, o uso de fórmulas falsificadas pode gerar necroses ou até mesmo a paralisia facial das vítimas. O botox também é utilizado na forma terapêutica, principalmente para tratamentos de disfunções motoras e neurológicas. 

Oitenta policiais federais participaram da operação. Em Campo Grande, no Recife, um depósito foi fechado. O dono, morador do Espinheiro, foi preso em flagrante. Em algumas clínicas fiscalizadas, ainda foram apreendidos medicamentos para emagrecimento proibidos pela Anvisa e próteses mamárias. 

As dez pessoas presas, entre elas sete fornecedores dos produtos, devem responder pelo crime contra a saúde pública (considerado hediondo), contrabando e formação de quadrilha. Juntas, as penas podem chegar a até 22 anos de reclusão. O número de presos pode aumentar ainda mais nos próximos 30 dias, prazo de conclusão para o inquérito. 

Ontem, 30 pessoas prestaram depoimentos para que mais detalhes do esquema sejam descobertos. “Pode ser que esses produtos sejam fabricados até mesmo no Brasil”, disse o superintendente da Polícia Federal em Pernambuco, Marlon de Almeida. A próxima etapa das investigações é identificar as vítimas das clínicas de estética irregulares para que elas também sirvam de prova para a polícia. O balanço dos materiais apreendidos será divulgado hoje.



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