Na busca por beleza e rejuvenescimento, frequentadores de clínicas
estéticas localizadas em oito estados corriam risco de ficar com marcas
irreversíveis no rosto. Quarenta médicos de Pernambuco estão entre os 66
espalhados pelo país sob investigação. Eles são suspeitos de aplicar produtos
falsificados em seus pacientes como se fossem toxina botulínica (botox).
Cobravam até três vezes mais que o valor da fórmula adquirida a baixo
custo.
Segundo a Polícia Federal, o esquema funcionava há cinco anos. O número
de vítimas é incalculável. Após nove meses de investigação, uma operação foi
deflagrada ontem. Dez pessoas foram presas, sendo seis em flagrante. Três
médicos pernambucanos fazem parte da lista. Um que atua no centro de Caruaru,
uma na Clinical Center, em Boa Viagem, e outra nos Aflitos. Uma quarta médica
foi detida no Recife, mas a polícia não comprovou a sua participação no
esquema.
A Polícia Federal não tem dúvidas de que os especialistas que aplicavam
as fórmulas falsas sabiam dos riscos à saúde. “Os produtos não apresentavam
rótulo, lacre ou embalagem. Eles adquiriam por até R$ 350 e aplicavam pelo
preço normal de R$ 1 mil.
As perícias confirmaram que a maioria não apresentava sequer a toxina
botulínica nos frascos”, afirmou o coordenador da Operação Narke, o delegado
federal Humberto Freire. Os produtos, supostamente de origem estrangeira,
chegavam aos estados via Correios. Fornecedores de Pernambuco, Paraíba, Rio
Grande do Norte, Piauí, Alagoas, Sergipe, Minas Gerais e São Paulo eram
responsáveis por repassar as encomendas aos médicos. “Os pacientes não tinham
conhecimento da origem dos produtos usados”, contou Freire.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, 117 médicos
pernambucanos estão credenciados a trabalhar nesta área específica. No entanto,
a falta de rigor nas fiscalizações abre espaço para que um número muito maior
exerça a atividade de cunho mais estético.
No estado, por exemplo, a Apevisa não fiscaliza as clínicas de estética.
“Isso cabe aos municípios”, afirmou o gerente geral do órgão, Jaime Brito.
Segundo ele, o uso de fórmulas falsificadas pode gerar necroses ou até mesmo a
paralisia facial das vítimas. O botox também é utilizado na forma terapêutica,
principalmente para tratamentos de disfunções motoras e neurológicas.
Oitenta policiais federais participaram da operação. Em Campo Grande, no
Recife, um depósito foi fechado. O dono, morador do Espinheiro, foi preso em
flagrante. Em algumas clínicas fiscalizadas, ainda foram apreendidos
medicamentos para emagrecimento proibidos pela Anvisa e próteses
mamárias.
As dez pessoas presas, entre elas sete fornecedores dos produtos, devem
responder pelo crime contra a saúde pública (considerado hediondo), contrabando
e formação de quadrilha. Juntas, as penas podem chegar a até 22 anos de
reclusão. O número de presos pode aumentar ainda mais nos próximos 30 dias,
prazo de conclusão para o inquérito.
Ontem, 30 pessoas prestaram depoimentos para que mais detalhes do
esquema sejam descobertos. “Pode ser que esses produtos sejam fabricados até
mesmo no Brasil”, disse o superintendente da Polícia Federal em Pernambuco,
Marlon de Almeida. A próxima etapa das investigações é identificar as vítimas
das clínicas de estética irregulares para que elas também sirvam de prova para
a polícia. O balanço dos materiais apreendidos será divulgado hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário